
Quem não adora uma boa conversa? Com aquele amigo que já não víamos há muito tempo, ao luar com a pessoa de quem mais gostamos ou até com a senhora do café que pergunta sempre pela família. Passamos o dia a conversar: fazemo-lo logo desde que acordamos. As conversas são a mais eficaz e a mais humana forma de comunicação. É através delas que manifestamos as nossas ideias e nos enriquecemos com outras tantas que são partilhadas connosco.
Há quem diga que as conversas são como as cerejas – eu concordo – consigo perder a noção do tempo quando estou “na palheta”, a saltitar de assunto em assunto. No entanto, em variadas situações, somos obrigados a substituir as conversas por e-mails, relatórios ou apresentações, mas um bom diálogo faz maravilhas. É sempre este o conselho que dou quando vou às empresas dar formações: “Querem melhorar a comunicação na empresa? Então, melhorem as conversações”. É deste encontro entre duas pessoas que saem frutos. Pessoas ligam-se a pessoas – foi isso que a rádio me ensinou.
A conversa é como uma dança, uma dança verbal, que depende de dois. E, como sabemos, as danças têm algumas regras e movimentos próprios. Todos nós temos memória de boas conversas que tivemos na vida. Sentimos que as palavras fluem, que há sintonia. Numa valsa, quando o homem avança com o pé esquerdo, a mulher recua o direito. E nas conversas? Que regras devemos seguir? Vou dar-lhe algumas dicas simples para que esta dança se torne ainda mais harmoniosa.
Comecemos pelo lado de quem fala. Há alguns erros que podemos evitar, se nos esforçarmos por:
– reduzir a informação. O nível de atenção das pessoas não é infinito. Lembre-se: está constantemente a lutar contra as distrações – que são múltiplas. O telemóvel é um deles, mas também não vai querer que alguém o esteja a ouvir e a pensar, ao mesmo tempo, no que vai fazer para o jantar. Vivemos no tempo da economia de atenção. Se dermos dados em excesso, teremos dois problemas: por um lado a pessoa pode perder-se e acabar por reter muito pouco daquilo que dissemos. Por outro lado, se damos informação de forma indiscriminada e sem critério, estamos a transferir para a pessoa que nos ouve o poder de selecionar o que é para si mais importante, em vez de sermos nós a definir o rumo da conversa;
– melhorar a assertividade. Às vezes não percebemos por que damos uma indicação e ela não é cumprida. Só mais tarde damos conta que a ação não se concretizou porque a nossa comunicação não foi assertiva. Quem comunica com assertividade comunica de forma transparente e honesta, é autoconfiante e não tem dificuldades em expressar a sua opinião. Esta competência emocional faz-nos conseguir tomar uma posição clara, sem ficar – e adoro esta expressão – “em cima do muro”. Para ser uma pessoa mais assertiva, deve pensar antes de falar, deve ser claro, direto e honesto e deve evitar dizer que “sim” quando gostaria de dizer que “não”;
– falar melhor português. A simplicidade na comunicação é fundamental. As ideias e o vocabulário querem-se simples e claros. Por isso, em vez de compliquês, fale antes português. Mantenha as frases curtas e não abuse dos advérbios. Para além disso, preste atenção à fluidez do seu discurso. Podemos ter o pensamento bem estruturado e as ideias claras na nossa cabeça, mas, se na altura de falar houver interferências no discurso, podemos por em causa os objetivos que queremos alcançar. Muletas como “portanto”, “ok”, “ou seja” e “digamos” são sérios entraves às conversas: diluem a mensagem, roubam a atenção da audiência e afetam a credibilidade;
Note, contudo, que a qualidade de uma conversação depende mais da qualidade da escuta do que do discurso. E também aqui podemos ter algumas ideias em conta:
– devemos começar por investir tempo a ouvir. Limpar a cabeça daquilo que queremos dizer a seguir e ficar simplesmente à escuta. Estamos a mostrar recetividade se estivermos atentos à partilha do outro e a conversa flui muito melhor se montarmos as nossas próprias ideias a partir daquilo que acabámos de ouvir. Quando penso em pessoas influentes, aquelas que têm uma vontade inabalável de deixar a sua marca no mundo, encontro nelas uma característica: a vontade de ouvir. São pessoas que dedicam o seu tempo a escutar, a sentir o outro, não se pondo em destaque a qualquer custo na conversa. Podemos cair na tentação de achar que a capacidade de influência se mede pela quantidade de vezes que falamos, mas não é verdade. É quando ouvimos que recolhemos a informação necessária para este processo, percebendo as motivações das pessoas que desejamos influenciar;
– esclareça tudo aquilo que ouve. Um bom ouvinte clarifica aquilo que ouve, faz perguntas para perceber se aquilo que concluiu corresponde aquilo que a pessoa queria dizer. Os bons ouvintes não fazem suposições e não chegam a conclusões precipitadas. Clarifique a informação. Repita o que lhe estão a dizer por palavras suas para se certificar de que entendeu a mensagem tal qual ela foi transmitida. Coloque questões se for necessário.
– certifique-se de que mantem a mente aberta. Ninguém gosta de manter um diálogo com alguém que é escravo das suas próprias crenças e que permanece irredutível sem nunca mostrar abertura. Ter opiniões diferentes é normal, mas é saudável que se façam cedências. É importante deixarmos outros pontos de vista pairarem aqui e ali, para, de vez em quando, adotarmos um ou outro.
Espero que estas dicas tenham sido valiosas para si. Não se esqueça de as ir aplicando e… boas conversas!
Carla Rocha