Corria o ano de 1770 quando a cidade do Porto viu ser lançada a primeira pedra do Hospital de Santo António, um projeto bastante ambicioso para a altura, encomendado, três anos antes, pela Santa Casa da Misericórdia do Porto ao arquiteto inglês John Carr.
A sua construção, como assinala o historiador Joel Cleto, num dos programas “Caminhos da História”, emitido no Porto Canal, integra-se num conjunto de grandes obras de que a Invicta foi palco e que representam uma mudança no paradigma da arquitetura e da arte. “É com edifícios como o Hospital de Santo António, a Alfândega Nova, o edifício da atual Reitoria da Universidade do Porto, o Quartel de Santo Ovídio e a Feitoria Inglesa que nós vimos surgir a arquitetura palladiana, o neoclássico, algo que é feito pela forte comunidade inglesa ligada à cidade”, explica.
No entanto, a verdade é que só cerca de 30 anos mais tarde, já na década de 1800, o projeto ficou, em parte, concluído, fruto do período turbulento das invasões francesas, sobretudo a segunda, dirigida pelo general Soult, do elevado custo do projeto e, diz Cleto, pelo facto do arquiteto inglês nunca ter visto presencialmente a obra. Facto que resultou numa outra fatalidade: uma grande parte da obra foi construída em granito, ao invés de tijolos, como acontecia com os palácios e outras obras neoclássicas em Inglaterra.
A estrutura hospitalar, construída em terrenos desocupados do Largo do Professor Abel Salazar, recebeu os primeiros doentes em 1799 – 150 mulheres provenientes do Hospital de Dom Lopo -, mas só em 1824 foi oficialmente inaugurada, tendo sido, a partir de então, que o Hospital de Santo António se foi assumindo como “hospital da cidade”. Um ano depois, entrou em funcionamento neste equipamento a Escola de Cirurgia, que estará na origem da Escola Médico-cirúrgica do Porto, a atual Faculdade de Medicina da U.Porto, uma “estrutura marcante na história do ensino do Porto e de todo o país”.
Segundo Joel Cleto, o nome de Santo António resultou de uma eleição promovida pela Santa Casa da Misericórdia, onde terão estado também em cima da mesa os nomes de São José, São Sebastião e São João de Deus. “Na votação a escolha, de imediato, recaiu sobre Santo António”, revela, resumindo, assim, os “250 anos de memória e identidade portuense” que merece ser conhecido por portugueses e estrangeiros e que, com toda a certeza, continuará a ser desbravado.
“Foram os desafios que a História nos impôs e para os quais sempre foi encontrada a resposta que garantisse o cumprimento da missão primordial deste Hospital”, declarou, nas comemorações dos 250 anos do Hospital de Santo António, Paulo Barbosa, presidente da Administração.
O edifício, com 250 anos de história, soma já guerras, revoluções e pandemias na propriedade da Santa Casa, que é curadora do seu espólio artístico e cultural, mesmo depois de no 25 de Abril o Estado Português ter assumido a sua gestão.
O inventário do hospital contempla um total de 1.020 peças, que vão desde a pintura, à escultura, artes decorativas e ainda mobiliário e cerâmica, que se encontram depositados em exposição no edifício.
Hospital de Santo António vai ter fachada limpa este ano
No dia em que se assinalaram os 250 anos do lançamento da primeira pedra do Hospital de Santo António, 15 de julho de 2020, a Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) anunciou que vai investir meio milhão de euros na limpeza da emblemática fachada do hospital, classificado como Monumento Nacional desde 1910.
Com esta intervenção, que conta com o apoio da Câmara Municipal do Porto entre os mecenas, o provedor da SCMP, António Tavares, acredita que será possível “limpar a fachada e devolver o esplendor daquele edifício”. “Dizer que ele está ali, que é uma instituição da cidade, que foi feito por gente da cidade e que é um hospital da cidade”, sublinhou, durante a cerimónia de comemoração, que foi assinalada nos jardins do Hospital de Santo António, com um concerto da Banda Sinfónica Portuguesa, em homenagem aos profissionais de saúde que se encontram na linha da frente ao combate da covid-19.
A previsão é que o processo de limpeza, levado a cabo pela centenária Cooperativa dos Pedreiros do Porto, esteja concluído este ano. Depois, a fachada do hospital passará a estar iluminada à noite, para que seja possível apreciar melhor a magnitude do edifício” desenhado pelo arquiteto inglês John Carr. Esta será a primeira vez que a fachada do Hospital de Santo António será alvo de intervenção, depois de ter começado a ser construída.
Entre as obras executadas pela Cooperativa dos Pedreiros destacam-se o edifício da Câmara do Porto, o Palácio dos Correios e o Monumentos dos Heróis da Guerra Peninsular, na Rotunda da Boavista.